Quem são os "prefeitos de praça" de Porto Alegre e como cuidam das áreas verdes

  • 12/09/2018
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Quem são os "prefeitos de praça" de Porto Alegre e como cuidam das áreas verdes

São 259 voluntários que administram os ambientes e cuidam dos equipamentos públicos

Um sentimento de pertencimento e de amor à cidade une 259 pessoas que têm uma missão em comum: conservar o patrimônio público em áreas verdes de Porto Alegre. Eles são os "prefeitos das praças", projeto criado há quase dois anos pela prefeitura da Capital.

A cidade tem, segundo a administração municipal, 699 áreas verdes aptas a ter prefeitos - incluindo os 11 parques e áreas não urbanizadas. Isso significa que 37,05% desses espaços são cuidados por moradores voluntários que administram os ambientes e cuidam dos equipamentos públicos.

O projeto "Prefeitos de Praça" existe desde junho de 2021. Pela iniciativa, os novos gestores assinam uma espécie de compromisso, o Pacto de Governança, entre comunidade e prefeitura, com objetivo de estabelecer a corresponsabilidade no cuidado com os espaços.

Conforme Regina Maria de Oliveira Machado, gerente do projeto, a meta é ampliar este número para 500 até o final do ano.

— Tenho muita alegria em fazer o trabalho. É um desafio (ser referência para) esses 259 prefeitos, já que eles demandam muito e solicitam diariamente — afirma.

Mas o que de fato faz um prefeito de praça?

— O prefeito de praça é pautado num decreto, e entre as atribuições está zelar pela área — esclarece Regina.

nstituiu o programa, outras funções são: cuidar dos equipamentos públicos contidos na praça; acompanhar os serviços de manutenção feito pelos parceiros, comunicando a prefeitura quando o serviço não for prestado adequadamente; comunicar caso haja problemas com iluminação pública e pichações, por exemplo; buscar parceiros que possam, também, contribuir com a conservação do espaço; e por fim, designar secretários para a função não remunerada que auxiliem no cumprimento das atribuições.

Os gestores voluntários recebem crachás e certificados da prefeitura. Além disso, os nomes são publicados no Diário Oficial do município. O diferencial é a "linha direta" com equipe do telefone 156, numa espécie de "canal exclusivo" para os prefeitos de praça.

A primeira prefeita nomeada, em 2021, foi a aposentada Rosane Machado, 63 anos. Moradora do bairro Menino Deus desde 1979, ela foi escolhida para representar a Praça Álvaro Coelho Borges, na Rua Botafogo. Dois anos depois, afirma que está feliz com o exercício de cidadania.

— Olha quantas pessoas eu já engajei e motivei. Nos grupos de aplicativo de mensagens, eu vejo o pessoal mostrando a praça limpa, os vizinhos se movendo. Agora os moradores estão desfrutando da praça — comemora, com os olhos brilhando.

Olha quantas pessoas eu já engajei e motivei (...) Agora os moradores estão desfrutando da praça

ROSANE MACHADO, 63 ANOS

prefeita da Praça Álvaro Coelho Borges, no Menino Deus

Já no bairro Vila Ipiranga, as cores da Praça Walter Schultz refletem a alegria da prefeita local, a advogada Lisiane Maia Camargo. Os bancos estão bem pintados, a grama aparada e até as placas que ela conseguiu para o espaço representam o cuidado. Em vez de esperar pelas autoridades ou ficar se queixando, ela mesma decidiu colocar a mão na massa e cuidar da praça perto de casa.

— Eu fiz pelos meus filhos, para eles terem um lugar aprazível. Mas isso se expandiu para outras crianças. Precisou alguém do bairro arregaçar as mangas e fazer — conta.

No começo da gestão, considerada como um case de sucesso pela prefeitura, Lisiane teve um desafio. Um ponto da praça era utilizado para descarte irregular de lixo.

— Deixavam até sofá. E foi desafiador porque demoraram cerca de seis ou sete meses para parar. A gente até fez plantio de plantas maiores pra inibir a colocação, botamos uma placa e desde então parou — relembra.

A situação era parecida a alguns quilômetros dali, na Praça Flávio Veiga Miranda, no Parque Santa Fé, na Zona Norte. Por muitos anos, o terreno localizado em frente à Rua Madre Teresa de Jesus Gerhardinger serviu como depósito de lixo e descarte de materiais roubados. Inconformada com a situação, a contadora Ana Rebelo Dutra, 63, tomou a iniciativa de transformar o local.

— Em 2015, tivemos uma ameaça de invasão na área. A partir disso, vimos que precisávamos mudar a postura em relação ao bairro — diz.

Moradora do bairro desde 1994, Ana acredita que a atitude contagiou a vizinhança, que ficou mais disposta a colaborar. Ela relembra que, com a reação da comunidade junto com órgãos de segurança, conseguiram que o terreno não fosse invadido. Era o começo de uma nova era da praça. A partir daí, o local começou a se tornar mais prazeroso para os vizinhos: ganhou arcos, placas, jardinagem e até uma estátua.

— A gente sente que esse é o nosso lugar. A gente planta e vê o resultado, dá prazer. Nossa causa é manter o lugar agradável. Queremos uma praça limpa, saudável, bonita e bem cuidada — conta Ana.

Mateus Bruxel / Agencia RBS"A praça pode servir de ponto de encontro e fazer aproximação da comunidade", diz Isabel CristinaMateus Bruxel / Agencia RBS

Da menor para a maior

Quem passa pelo local até se espanta: de uma ponta a outra são apenas 30 passos. Diferentemente da maioria das outras áreas verdes de Porto Alegre, a Praça Doutor Leônidas Xausa, no bairro Petrópolis, não tem muito espaço. O local na Avenida Iguassu tem apenas 220 metros quadrados: três bancos e três lixeiras — e fica no meio de uma selva de pedras de prédios.É considerada a menor praça da Capital, segundo a prefeitura.

A empresária Isabel Cristina Coelho Carvalho, 66 anos, se "autoindicou" para cuidar da área. Ela foi uma das últimas prefeitas voluntárias a tomar posse, no último dia 18 de março. Vivendo no bairro há 25 anos, Isabel diz ter optado ser prefeita pela afinidade com a região. Mas confessa que ficou surpresa pelo tamanho da praça.

— Ao mesmo tempo que me surpreendi, me encantou. Eu escolhi exatamente por ser pequenininha. A vontade de ser prefeita é para fazer essa comunicação entre os vizinhos. Tornar a quadra e o quarteirão pulsantes — comenta.

O tamanho, acrescente, não é problema. Isabel explica que já tem diversas ideias para o local.

— Pode ser um projeto piloto que inspire tantas outras praças e outros cantinhos da cidade. Ela pode ser uma praça de socialização com os moradores porque tem tantos predios sendo construidos aqui perto. A praça pode servir de ponto de encontro e fazer aproximação da comunidade — argumenta.

Quem também buscar dar exemplo é um paulista de Taubaté e que mora em Porto Alegre há pelo menos seis décadas. Diferentemente de Isabel, Roberto Ivan Raul Jakubaszko, 72 anos, cuida da maior área verde da cidade: a Redenção — que tem 37,51 hectares.

— Eu sou um dos fundadores do Conselho de Usuários da Redenção. Então brinco que não escolhi ser prefeito, fui escolhido. E isso me deixa muito feliz — afirma.

Sobre as atribuições, o prefeito relata:

— Nossa ideia é defender o parque. Às vezes alguém te liga de madrugada e diz: "Estão cortando árvore". Ou "estão cortando um pedaço de calçada". E eu respondo: "Como assim estão cortando? Tem algo da prefeitura?" Se não, a gente aciona Brigada Militar, Guarda Municipal. Se for da prefeitura, a gente vem ver o que é e o porquê de estar sendo de noite — complementa.

André Ávila / Agencia RBS"Acho que se cada um fizer um pouquinho, vai ser um lugar melhor", comenta CarmenAndré Ávila / Agencia RBS

Da Zona Norte à Zona Sul

A desigualdade social que leva pessoas a dormirem em espaços da Praça Pinheiro Machado, na Zona Norte, fez com que a artesã e consultora de vendas Carmen Claudete Schaefer, 47 anos, assumisse como prefeita do local. Carmen argumenta que aceitou a missão para "ajudar a mudar um pouco a realidade de muitas praças abandonadas". Ela foi convidada pela subprefeita da região já que "levava demandas e ideias" antes de ser nomeada. Natural de Santo Cristo, no noroeste gaúcho, ela mora no bairro São Geraldo há 20 anos.

— Eu reclamava que a iluminação não estava boa. As pessoas tinham medo de atravessar a praça e hoje em dia, não. Acho que se cada um fizer um pouquinho, vai ser um lugar melhor — comenta.

Cuidar e zelar é o meu foco. As pessoas reclamam do poder público, mas cada um tem que cuidar da sua praça.

VERA LUCIA DE CAMILIS

prefeita da Praça Laura Fulginiti, no bairro Espírito Santo

O pensamento de "por quê não ajudar?" também tomou conta da diretora da Escola de Educação Infantil Mundo Mágico da Alegria, Vera Lucia de Camilis. A instituição fica atrás da Praça Laura Fulginiti, no bairro Espírito Santo, naZona Sul.

— Cuidar e zelar é o meu foco. As pessoas reclamam do poder público, mas cada um tem que cuidar da sua praça — diz a diretora.

Assim como Carmen, ela também foi convidada pelo subprefeito da região onde mora para assumir a função.

— É trabalhoso e de responsabilidade, mas cuidar é importante para mim. Pretendo adotar mais uma praça, mas estou esperando um pouco — revela.

Pode se candidatar a prefeito quem já tem algum tipo de cuidado com uma praça ou que queira exercer a função. A escolha acontece entre os candidatos que se inscrevem espontaneamente ou chamamento público promovido pelo município. Basta enviar e-mail para apoiepoa@portoalegre.rs.gov.br.


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